Você apoia o voto impresso? Entrevista com ministro BARROSO (TSE)

Mari Tegon ⚡️
3 min readMay 28, 2021

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Mari Tegon para Tecnoveste

O problema dos que defendem o voto impresso é que não sabem como funciona o processo de voto digital. A urna eletrônica também imprime os votos. Elas só não têm os nomes dos eleitores e assim evitam o “voto de cabresto” ou “coronelismo”.

Você sabia que qualquer um pode contestar o número de votos registrados na urna eletrônica? A urna imprime o número de votos registrados. Todos os eleitores passam pela biometria e/ou assinam o caderno e pegam o canhoto comprovante de voto. E o resultado da eleição sai no mesmo dia.

Em conversa pelo Twitter, me foi apresentado o argumento de que “as urnas podem apresentar o nome de um candidato que não corresponde com o número digitado”… Neste caso, você está ali na frente, vendo a foto e o número do candidato. Se você apertar “votar”, depois de supostamente conferir isso, o problema realmente não está na urna — está no cérebro. Além disso, uma das fases de auditoria pré-eleição é justamente a “computação do voto”. Se o problema realmente acontecer você deve informar o mesário da sua seção eleitoral.

A parte de inteligência e Tecnologia da informação (T.I) é uma questão de hardware e software. A urna eletrônica não é ligada a nenhum computador ou rede, precisa estar conectada à uma tomada, apenas. Quem faz essa parte da auditoria é uma comissão. Você pode ler mais aqui.

Ministro Luís Roberto Barroso (STF e TSE)| Crédito: Roberto Jayme/ASCOM/TSE

EM JUNHO publicarei uma entrevista exclusiva com Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, para. Bondosamente o ministro Luís Roberto Barroso respondeu até ‘perguntas protocolares’. Segue o ‘spoiler’:

Mari Tegon: Ministro, sobre a auditagem — o que é? Como funciona?

MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO: O sistema eleitoral brasileiro é auditável do primeiro ao último passo. São tantos os mecanismos que dá até para perder a conta.

Na fase de desenvolvimento dos programas, tem a chamada abertura: inúmeras entidades, inclusive a Procuradoria Geral da República, a Polícia Federal, a OAB e todos os partidos políticos são convidados para acompanharem, conferirem e darem sugestões. Depois, tem-se o chamado Teste Público de Segurança. A urna com os programas é submetida, deliberadamente, por uma semana, a ataques para ver se há alguma vulnerabilidade.

Já nas eleições são utilizadas cerca de 500 mil urnas, distribuídas com a valiosa ajuda das Forças Armadas. No dia da votação, a urna — que não fica em rede — é ligada e se imprime um primeiro boletim, chamado de zerésima, que comprova que não há qualquer voto ali.

Durante a votação, na maior parte dos casos, o eleitor é identificado por um sistema de biometria. Após o último eleitor ter votado, o presidente da seção imprime o boletim de urna. Trata-se de um extrato registrando os votos que cada candidato e candidata recebeu e também os votos nulos e em branco. O boletim de urna é impresso antes do envio dos resultados ao TSE e tem cópias distribuídas aos fiscais de partido e afixadas na porta da seção eleitoral. Isso é muito importante, pois esse relatório pode ser utilizado, a qualquer tempo, para conferência com os dados totalizados e divulgados pelo TSE.

A urna eletrônica armazena, igualmente, o Registro Digital do Voto (RDV), que é a versão digital da antiga urna de lona. Os votos ficam nesse arquivo, sem a identificação do eleitor.

Qualquer partido ou interessado pode solicitá-lo ao TSE, no prazo de até 100 (cem) dias, e mesmo imprimi-lo, com seu próprio software, se desejar. Ainda na véspera das eleições, cerca de 100 (cem) urnas são sorteadas e levadas, no dia da votação, para a sede do TRE, onde são submetidas a uma auditoria independente. A primeira em uma cédula de papel, como era antigamente, e a segunda, na urna. Tudo isso é gravado.

Como se vê, são muitas as etapas de auditoria. Todas elas podem ser acompanhadas pelos partidos políticos, pelo Ministério Público, pela Polícia Federal, pela OAB e por outras entidades representativas. Até hoje nenhum problema foi detectado no sistema de votação.

No TSE, eu elaborei, pessoalmente, uma campanha institucional que explica passo a passo todas essas auditorias, desde a elaboração dos sistemas até a conclusão da totalização. O vídeo está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Yu5MvFVO4NU.

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